Foto: Gabriel Jabur/Agência Brasília.

 

Por Wagner Pequeno | Rede Mevi

O Exame Nacional do Ensino Médio – ENEM é uma etapa importante no calendário escolar brasileiro para acesso ao ensino superior, principalmente nas universidades públicas, e acontece desde 1998. Depois de um período de crescente adesão ao exame, o período de 2018 a 2023 registrou um evento atípico que foi a pandemia de COVID-19 que impactou a humanidade e teve consequências diretas na participação e resultados do exame. Diante desse cenário, uma análise de participação e desempenho dos candidatos nos traz o registro para analisarmos os impactos no decorrer do tempo. Assim, esses são resultados preliminares que analisam o perfil e a performance dos candidatos.

Metodologia

A fonte primária dos dados dessa pesquisa são os microdados do ENEM do site do INEP. Após a leitura dos dados, uma higienização de dados em branco permitiram um volume menor de informações que, sem perda de qualidade, permite uma análise estatística dos resultados.

Inscrições e participação 

A tabela  1 apresenta a quantidade de inscritos em cada ano do exame. Uma primeira análise dessas informações mostra uma queda de quase 2,5 milhões de inscritos em 2021 em decorrência da pandemia. Com a quarentena imposta no ano de 2020 ainda tivemos um grande número de inscrições no mesmo ano, porém no ano seguinte, quando as atividades foram retomadas, tivemos o maior impacto nas inscrições. As edições de 2022 e 2023 começaram a recuperar a quantidade de inscritos mas ainda sem o mesmo volume de 2019, ano anterior a pandemia.

Os dias de prova apresentam uma média de 69% no primeiro dia e 65% no segundo dia. A figura 1 mostra que o ano de 2020 teve uma abstenção de mais de 50% nos dois dias de exame. A recente volta das restrições de circulação da quarentena e o receio de contaminação no ambiente da prova, em uma sala com outros candidatos, podem explicar este fato. Calculando o volume de ausências no segundo dia de provas, temos o número de 3.184.180 candidatos que não compareceram.

Tabela 1 – Quantidade de inscritos por ano.

 

Figura 1 – Participação dos candidatos nos dias de prova.

Perfil dos Candidatos

Figura 2 – Candidatos ENEM por gênero.

O concurso tem a maioria dos candidatos do gênero feminino. A figura 2 apresenta os percentuais de candidatos por gênero em cada um dos concursos. A maior diferença entre os gêneros foi no ano de 2018 quando o percentual foi de quase 4% a mais.

Os estados com maior participação de candidatos são São Paulo, Ceará, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia. Na figura 3 temos o percentual de participantes em cada uma das edições e, excetuando o Ceará, temos relação direta com a densidade demográfica do país. Uma justificativa para essa posição é a longevidade dos programas de incentivo a educação no estado.

Figura 3 – Candidatos ENEM por Unidade da Federação.

O exame é realizado majoritariamente por candidatos com 17 ou 18 anos. Na distribuição das faixas etárias do concurso, mais de 97% dos candidatos estão nas faixas de 17 e 18 anos. Observando os extremos, aparecem candidatos menores de 17 anos e maiores de 70.

Figura 4 – Candidatos ENEM por faixa-etária.

Em relação ao tipo de escola que o candidato estudou temos a predominância dos oriundos de escolas públicas. A figura 5 mostra que quase 80% dos candidatos são de escolas públicas. Esta distribuição se aproxima da distribuição média dos tipos de escolas no Brasil.

Figura 5 – Candidatos ENEM por tipo de escola.

Os candidatos estão majoritariamente concentrados entre a cor/raça Branca e Parda. A figura 6 apresenta que o maior percentual é de candidatos Brancos, seguidos bem próximo do percentual de Pardos. Os candidatos Negros representam 10% dos candidatos, há um pequeno percentual de Amarelos e um traço de Indígenas.

Figura 6 – Candidatos ENEM por Cor/Raça.

Desempenho nas áreas de conhecimento

Observando o desempenho dos candidatos nos seis concursos nos permite estabelecer um ponto de controle para uma comparação do desempenho em cada um dos anos.

Para a análise desse desempenho foi calculada a média, o desvio padrão e identificados os valores de referência que dividem os dados em quatro partes iguais (quartil). Assim, os valores que aparecem nas colunas 25%, 50%, 75% e Max representam o valor que divide o primeiro, segundo, terceiro e quarto quartil, respectivamente. A tabela  2 apresenta os dados de desempenho calculados para os concursos realizados entre 2018 e 2023.

Tabela 2 – Desempenho médio nos concursos.

Os valores médios são muito baixos no contexto em que os candidatos pretendem dar continuidade nos estudos e tem a intenção do aprofundamento nas áreas acadêmicas. Em especial, a nota de Ciências da Natureza está abaixo de 500 pontos e todas as médias não ultrapassam os 600 pontos. Em uma ordem de desempenho temos Redação, Matemática, Ciências Humanas, Linguagens e Códigos e Ciências da Natureza, respectivamente. Considerando a medida de dispersão do desvio padrão, todos representam mais de 14% da média que indica um desempenho não uniforme. Essa característica fica preocupante quando levamos em consideração ao terceiro quartil, que representa 75% dos candidatos, nos faz observar que três quartos tem notas inferiores ao apresentado na tabela  2. Em relação as notas máximas, os valores são calibrados pela Teoria de Resposta ao Item (TRI) e somente na Redação temos sempre o valor máximo de 1000 pontos.

Figura 7 – Desempenho em Linguagens e Códigos nos exames.

Na figura 7 temos o desempenho dos candidatos na área de Linguagens e Códigos. A linha pontilhada representa a nota do terceiro quartil do desempenho geral que equivale a 574,10 . Em uma primeira análise temos o resultado de 2020 e 2018 se destacam positivamente em relação aos demais anos e o ano de 2021 apresentou desempenho mais baixo. Buscando tendência de desempenho, tivemos um crescimento entre 2018-2020, uma queda acentuada em 2021 e estabilidade em 2022-2023 na área.

Figura 8 – Opção de língua estrangeira nos exames.

Quanto a escolha da língua estrangeira, os candidatos preferem a língua inglesa. A figura 8 apresenta o percentual das opções nos concursos. 

Figura 9 – Desempenho em Ciências Humanas nos exames.

Na figura 9 temos o desempenho dos candidatos na área de Ciências Humanas. A linha pontilhada representa a nota do terceiro quartil do desempenho geral que equivale a 596,70 . O único ano de destaque é 2018, que se mostra uma exceção quando analisamos a tendência, pois temos um comportamento próximo da linearidade nos demais anos. O ano com pior desempenho foi 2019 e, mesmo nessa situação, não teve um desempenho distante dos demais anos.

Figura 10 – Desempenho na Redação nos exames.

Na figura 10 temos o desempenho dos candidatos na Redação. A linha pontilhada representa a nota do terceiro quartil do desempenho geral que equivale a 740,00 . O resultado mais nítido é que o desempenho vem evoluindo com o passar dos concursos. Após um salto significativo de desempenho de 2018 para 2019, uma estabilidade entre 2019 e 2020, a partir de 2020 todos os anos tivemos crescimento na média de desempenho. O melhor resultado ocorreu em 2023 e o pior em 2018.

Figura 11 – Desempenho em Ciências da Natureza nos exames.

Na figura 11 temos o desempenho dos candidatos em Ciências da Natureza. A linha pontilhada representa a nota do terceiro quartil do desempenho geral que equivale a 547,40 . O ano de melhor desempenho foi em 2020. A área com o desempenho mais baixo tem um ciclo irregular entre 2018 e 2020 e um processo de crescimento entre 2021 e 2023. O ano de pior desempenho foi em 2019.

Figura 12 – Desempenho em Matemática nos exames.

Na figura 12 temos o desempenho dos candidatos em Matemática. A linha pontilhada representa a nota do terceiro quartil do desempenho geral que equivale a 622,00 . A média global dos concursos melhorou, porém sem um comportamento regular de crescimento. O ano de 2019 teve o pior desempenho e o ano de 2023 o melhor.

Conclusões

O desempenho geral dos candidatos segue um comportamento quase que uniforme quanto ao desempenho. Os 279 dias de suspensão das atividades nas escolas em 2020, relativos a pandemia, apontam que o exame de 2020 teve impacto no não comparecimento dos candidatos nos dias de exame e no exame de 2021 o impacto foi no desempenho dos candidatos.

O ano de 2018 tem destaque positivo na área de Ciências Humanas foi 2018 e o  pior resultado na redação. O ano de 2019 teve o pior desempenho de matemática, Ciência Humanas e Ciências da Natureza. O ano de 2020 foi o de melhor desempenho em linguagens e códigos e em Ciências da Natureza. O ano de 2021 foi o pior resultado em Linguagens e Códigos. O ano de 2023 foi o melhor resultado na redação e matemática.

O ENEM está em uma etapa de recuperação do volume de candidatos depois da pandemia. Os exames de 2022 e 2023 tiveram um crescimento que traz uma tendência de recuperação dos números de 2019. Uma investigação sobre esta velocidade se faz necessária para elucidar em quanto tempo acontecerá.

Autor

  • Wagner Pequeno

    Professor da Secretaria de Educação do Distrito Federal e multiplicador da Rede Mevi Iede/QEdu | prof.wpequeno@gmail.com

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